As mortes às quais sobrevivi, me deram, desde sempre, uma certa intimidade com o silêncio, com o abandono, que eu aprendi a enxergar no rosto da efemeridade a essência do eterno. Minha poesia é forjada na ausência e na solidão. Uma vez estive do outro lado do abismo. Não foi sonho! Lá aprendi a amar e a ter a plena fruição de todo o amor que recebi. E a ter gratidão. Disso derivou a minha capacidade de reconhecer a dimensão poética nos outros, nas coisas e em mim mesmo. Mas não lembro exatamente como voltar lá (acho que só pode ter sido sonho mesmo). Minha poesia é essa eterna expectativa de reconstruir o caminho perdido. Embora a distância muitas vezes interrompa o fluxo dos meus versos, sem poesia a solidão seria insuportável. Escrevo pois procuro responder à pergunta primordial que me faço. A pergunta que responde a mim mesmo quem sou eu. Escrevo sem, no entanto, conseguir resposta. Sem exaurir o núcleo da dúvida e do mistério que me habita. (Ou sou eu quem habita no mistério?)
Das Tripas, Coração e Outros Poemas
Cód: 3411 N1435297427431
Formato: 14 x 21 cm
Tipo de Capa: Capa cartão - brilho
Tipo de Acabamento: Brochura sem orelha
Tipo de Papel: Offset 75g
Cor: Preto e branco
Páginas: 92
Edição/Ano: 1ªed/2015
Idioma: Português
Peso: 134
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Não pertencer a lugar nenhum. Não ter lar. Não ter pátria. É como não estar ancorado no mar de si mesmo: águas instáveis e turbulentas, por vezes serenas, pois solitárias. Barco à deriva, sem porto, sem cais, sem nada. Angústia de ter os pés sempre úmidos sem tocar a terra jamais. Um balão amarrado no frágil mindinho de um bebê dentro da ventania. Eu, à deriva de mim mesmo com os pés molhados dentro da ventania. Sem língua comum entre os homens, sem terra natal, sem conterrâneo. Mas continuo tendo vida (tem dú-vida) que não sana. Você não me vê assim, vê? Pois esse sou eu.